Mais uma pra você. E por incrível que pareça, eu não sei por onde começar. Eu sempre saio de relacionamentos deixando tanta coisa para trás. Eu sempre acho que ainda tem muito a dizer, e eu digo. Eu falo tudo – ou quase tudo – o que preciso escrevendo, mas não sei se você lê. E nem sempre ajuda. Eu demorei tanto pra te esquecer. Eu demorei pra perceber que se acabou, acabou. É simples. E eu tentei dizer, eu tentei muitas vezes dizer tudo o que eu queria, tudo o que eu precisava te dizer, mas você não quis ouvir, então por que eu me preocupava tanto? Eu demorei para perceber que, em tantos garranchos e palavras mal colocadas talvez eu já tivesse dito tudo, mesmo que às vezes não dissesse nada. Sempre fui (ou sou) muito repetitiva em meus textos e cartas, e sempre tentava lhe dizer as mesmas coisas. Coisas que você nunca entenderia. Um dia, daqui muitos anos, eu poderia reunir todos os textos que já lhe escrevi e te mandar por correio, na sua casa grande e aconchegante em que você viverá com sua adorável esposa e filhos. Daqui muitos anos. Se eu conseguir juntar todos. E será que, após tanto tempo, eu já vou ter te esquecido? O que é essa coisa de “esquecer” que todo mundo fala? Como se esquece alguém? Eu lembro de você, eu lembro de tantos e tantos momentos, e das palavras de amor e também das brigas, eu lembro de muita coisa, sempre vou lembrar, só que o que eu sinto agora é diferente. Posso dizer que “esqueci” tudo o que senti por você? É, talvez seja isso o que dizem. Não dá pra explicar. Eu só não sinto mais. É fato que sempre vai ter uma parte de mim, por menor que seja, que vai alimentar um amor por você, e essa partezinha sempre vai estar lá, no fundo do meu peito. Porque em tantos anos, depois de tanto tempo tentando apagar a chama desse amor, ainda tem tantas “faíscas” aqui dentro. Foi um amor muito grande e que não se pode deixar de sentir assim, de repente. Foi um sentimento enorme que ocupou muito espaço dentro de mim e não deu pra tirar tudo aqui de dentro, sabe? Você se foi e deixou um buraco enorme, e n o r m e. E esse buraco foi fechando, fechando, bem devagarinho, e hoje fechou, posso afirmar com toda a certeza que, finalmente, ele fechou, mas deixou uma cicatriz. E é essa cicatriz que me faz alimentar a ideia de que talvez eu ainda te ame. Eu não sei se amor é a palavra certa e nem sei mais o que estou dizendo. Ficar procurando explicações para essas coisas... é tão inútil. O amor não tem explicação, ainda mais um amor como o nosso. Não que nosso amor seja especial ou melhor que outros, mas “era tanto amor”, lembra? E simplesmente não dá pra explicar como ou porquê você conseguiu fazer brotar esse sentimento lindo - e às vezes corrosivo - dentro de mim. Tive muitos momentos felizes com você. Você já me falou muitas coisas lindas e me mostrou o que é um amor de verdade. Mas também tenho muita tristeza de ti. Tentei sentir raiva, te “deixar pra lá”, e era tão difícil. Depois de tantos desencontros e tanto sofrimento, por que, por que era tão difícil? O que você fez comigo, garoto? Já tive todos os sentimentos possíveis por ti. Agora és apenas uma lembrança. Agora é só carinho. Carinho por um passado que, apesar de tudo, me fez muito bem. Cresci tanto contigo. E depois de ti. Mais ainda depois de ti. Hesito em dizer, mas admito que você foi meu primeiro amor. E por mais que eu tente acreditar no contrário, eu sei que você disso (sabe, né?). Você fala que seu "primeiro amor" foi uma menina da quinta série... Crianças da quinta série nem sabem o que é amar. E isso dito por mim deve ter algum valor. Eu, que sempre fui toda romântica, desde criança, quando me “apaixonava” por garotinhos do colégio. Talvez por isso eu veja o amor de uma forma diferente. E você já teve tantas namoradas, que me entristece pensar como não tive tanta importância para ti. Mas algo me diz que eu tive! Algo me diz que eu sou importante e sempre vou ser, como você é para mim. “Algo me diz”, “eu sinto isso”... Já me frustrei tanto por causa desses “pressentimentos”. Mas tudo o que a gente viveu não pode não deixar uma marca em você também. Eu sei como você sofreu em seu último relacionamento e me dói ver, na forma como você fala, o quanto você a amava. Mas tento não pensar nisso e acreditar que você também me amou, um dia, num passado muito distante. Até porque, hoje isso não faz mais diferença, certo? Por que eu me importo tanto? Eu me sinto na obrigação de ser especial, ou melhor, eu sinto que as pessoas importantes para mim têm a obrigação de me amar da mesma forma. Você me amou da mesma forma?
Ana D.
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