quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Panetone

Feliz Natal!
Amém.

Essas foram as palavras que eu mais falei hoje.

O “Feliz Natal” porque eu e meus pais saímos distribuir panetones para moradores de rua e carrinheiros, e “Amém” porque a imensa maioria deles agradecia com um “Deus te abençoe”.

Eu não sou religiosa, mas eu sempre me sinto muito querida quando alguém me fala isso. Na minha concepção é como um “obrigada” só que mais bonito. É uma frase que eu sorria toda vez que ouvia (mas ninguém via, pois eu estava de máscara).

Enquanto escrevia o rascunho desse texto no meu celular aconteceu algo mais incrível ainda. Paramos numa esquina para entregar panetone para um homem, e então vimos outro homem e eu peguei mais um panetone. Ele disse “entrega pra ele” e “entrega pra quem precisa”, se referindo ao primeiro homem. Mais rápido do que eu pudesse formular uma frase melhor, escapou da minha boca um “mas você não precisa?”, e ele tirou um panetone de uma sacola dizendo que já recebeu outros, e que era para darmos para alguém que precisa mais.

Essa é a segunda vez que saio com a minha família no natal para distribuir panetones. E essa é também a segunda vez que alguém recusa. Incrível como a gente sempre pode se surpreender.

Mas o momento mais bonito do dia de hoje (e arrisco dizer, do meu ano), foi numa esquina com uma família toda, em que levei dois panetones e entreguei para duas meninas (eu sempre entrego direto para as crianças, o sorriso delas é a maior recompensa). Elas me falaram “obrigada” muitas vezes e me abraçaram.

Eu fui abraçada por duas crianças, sem máscara, em meio a uma pandemia.

Eu travei. Não sabia se sorria ou se chorava de nervosismo, mas depois de passado o momento de surpresa, eu só consigo sentir gratidão.

Quem me conhece sabe que eu sou a pessoa mais neurótica possível com os cuidados contra a covid, e eu não vou ser hipócrita e fingir que não pensei em cancelar a ideia dos panetones quando os casos voltaram a aumentar no fim do mês passado, mas seria muito egoísmo da minha parte voltar atrás.

Chegou um momento em que eu só queria que acabasse logo pois estava ficando muito ansiosa, mas para entregar 50 ou 100 panetones o risco é o mesmo. E o abraço mais arriscado da minha vida foi também o mais bonito.

Resumindo, eu não ia falar nada na internet sobre isso, porque hoje em dia falar sobre ser solidário é só para “aparecer”. Eu não quero aparecer, mas eu fiquei emocionada com o que aconteceu e deu vontade de fazer uma das coisas que eu mais gosto na vida: escrever.

Essa experiência me mostrou o que a gente sempre ouve falar por aí, que a felicidade está nas pequenas coisas.

A das meninas estava nos panetones, e a minha estava no abraço.