terça-feira, 5 de janeiro de 2021

2020, um ano que poderia não ter acontecido

Eu comecei o ano de 2021 escrevendo. Bêbada de champagne, deitada no sofá, rascunhando umas palavras soltas no meu celular. Isso virou a minha Retrospectiva de 2020. Um ano que só acabou no calendário, e do qual a minha análise não vai ser nem um pouco otimista, a despeito do meu penúltimo post, porque não dá para fazer um retrospectiva feliz, gente. Desculpa.

(Os primeiros quatro parágrafos são do dia 01/01/21, em que comecei escrevendo)

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Ontem eu assisti a retrospectiva de 2020 da Globo e chorei igual um bebê (no episódio da Covid, porque tem 5 episódios no Globoplay).

Hoje, dia 1º de janeiro de 2021, eu já comecei o ano bêbada, trancada em um apartamento com o meu namorado, mandando mensagens para amigos das quais eu nem sei se vou lembrar amanhã.

Isso me fez refletir sobre tudo o que o ano de 2020 nos tirou, e eu fiquei puta (sem eufemismo mesmo, sinto muito).

Agora, especificamente na virada de ano, eu fiquei puta porque eu estou levemente bêbada e eu nem lembrava como era beber com os amigos e dar umas risadas (e eu ainda não lembro, porque eu estou trancada num apartamento, somente com o meu namorado, lembra?).


Mas a verdade é que 2020 tirou de mim vários prazeres triviais do dia a dia. Uma cerveja no barzinho da esquina, um jantar romântico num restaurante legal, uma volta de bicicleta no parque, um passeio no shopping, um banho de mar, ir para a academia... (e isso só porque eu sou uma pessoa consciente, porque muita gente continuou fazendo cada uma dessas coisas e muito mais).

Mas 2020 tirou muitas outras coisas de muitas pessoas.

Uma mãe.

Um pai.

A avó ou o avô.

Irmãos.

Filhos.

Amigos.

O olfato, o paladar...

A mobilidade básica do corpo após meses deitado em uma cama de hospital...

Sem contar várias outras sequelas das quais eu nem poderia falar aqui porque, sinceramente, não tenho mais estômago para ler sobre e não chorar.


Eu já disse aqui e é verdade que em algumas esferas da minha vida 2020 foi um ano bom. Me trouxe novos aprendizados, um contato intenso comigo mesma e um cuidar de mim como nunca havia feito antes. Mas, convenhamos, que escolha eu tinha senão me conectar comigo mesma, visto que me desconectei do resto do planeta? (E isso literalmente, porque até um detox das redes sociais eu fiz)

Porém, foi um ano que poderia não ter acontecido. Um ano no qual eu trocaria todas as minhas experiências (que eu teria vivido em menor frequência e/ou intensidade) por um ano sem Covid. Pelas vidas que se foram, pelo tempo perdido, pelos litros de álcool em gel gastos, pelo medo, que continua presente toda vez que eu saio de casa.

2020. Um ano que mostrou a solidariedade que a gente via na TV lá no início da quarentena, mas que também (e em muito maior quantidade, eu acredito) mostrou a podridão das pessoas, o egoísmo, o desrespeito, a irresponsabilidade, a falta de empatia.

Um ano que, ao meu ver, não acabou e (infelizmente) não acabará tão cedo. Porque, mais do que nunca, essa virada de ano é só uma formalidade no calendário.