quarta-feira, 12 de maio de 2010

refrigerante


Não é para me gabar, mas eu sempre tive motivos de sobra para me considerar um ídolo das meninas do meu colégio. Sou alto, loiro, forte e supercobra no vôlei e no basquete. Isso me tornava um cara paqueradíssimo, que podia namorar ora uma, ora outra. Fidelidade eu só mostrava pela motocicleta que ganhara do meu pai (apesar dos protestos da minha mãe). Era uma CB400 transadíssima, e em volta dela normalmente se formava uma rodinha de meninas à espera de carona, no final das aulas. Mas eu não a dividia com ninguém, na minha moto só eu subia, e eu sabia direitinho como contornar as garotas, elas continuavam caidinhas.
Eu não tinha o que reclamar da vida, era lindo, inteligente, rodeado de garotas... O que mais um adolescente podia querer? Pois é, mas eu não me lembrava do fato de que a minha vida não seria assim para sempre, e foi quando eu cheguei aos 18 anos – último ano do ensino médio, festa de formatura – que eu esbarrei com ela. Era mais linda do que todas as garotas que me davam mole, mas ninguém reparava nela, pois sempre estava de óculos e cabelo preso, e eu nunca havia reparado em sua beleza exuberante.
O refrigerante deixou quase preta a minha camisa branquinha, e sujou um pouco o vestido rosa dela também, o qual nem consegui admirar antes do “acidente”, e depois de tê-la visto, eu só conseguia olhar para seu belo rosto, nada mais. Ela me olhou nos olhos, pediu desculpas várias vezes, desesperada, pensando em um jeito de consertar a situação. Mas eu não estava nem aí, após meus olhos terem se encontrado com os dela, parecia que eu estava hipnotizado. Acordei dos meus pensamentos, me dei conta do que havia acontecido, falei que não tinha problema, que não precisava se preocupar, e pedi desculpa por ter esbarrado nela e tê-la feito derramar refrigerante não só em mim, mas em si mesma também. A garota virou as costas e foi embora, sem graça. Eu a segui e a vi tentando ligar o motor do seu simples carro. Percebi que ela não conseguiria, lhe ofereci uma carona e disse que poderíamos voltar ali no dia seguinte e chamar um mecânico. Ela me olhou, então eu falei que também já estava indo embora, a festa estava sem graça mesmo. A bela moça hesitou por mais alguns instantes, mas acabou cedendo, era muito tarde para recusar uma simples carona. Então, Marcela foi a primeira garota que subiu na minha moto, primeira e única. Só depois fui pensar em como as outras meninas se sentiriam ao saber disso, mas elas que se danem, só sobe na minha moto quem é digno disso, e eu sentia que Marcela merecia esse privilégio. E com o tempo eu fui descobrindo o porque. Meu Deus, que garota encantadora! Ela era diferente de todas as outras, e como. Nunca vi menina mais difícil. Mas eu não desistia, eu não sabia o que tinha na cabeça. Só que na verdade, não era na cabeça, era no coração. Não dava para evitar, pela primeira vez na vida eu estava apaixonado. Minha mãe percebia, acabou descobrindo, se aproveitou da situação e conseguiu convencer meu pai a me dar um carro. Ela não gostava nem um pouco da minha moto, achava perigoso. Mas eu não a trocava por nada, era minha paixão, embora não fosse mais a única.
A primeira e última vez que usei meu carro foi quando Marcela finalmente aceitou sair comigo. Mas por trás daquele jeitinho meigo e tímido, descobri que existia uma garota que adorava uma adrenalina. Desde então só saíamos de moto, ela sempre estava presente conosco: no nosso primeiro beijo, nos momentos mais perfeitos. É, a estratégia da minha mãe não deu certo. Acabei vendendo o carro e guardando o dinheiro para meu casamento com Marcela. Dei-lhe um lindo anel, ela aceitou meu pedido, nos casamos e somos felizes.
Sinceramente, não sinto falta da minha adolescência, eu a aproveitei bem. E há duas coisas que nunca me deixarão esquecê-la: minha CB400, e a “bela garota do refrigerante”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário