Eu passei as últimas semanas pensando na retrospectiva que eu preciso escrever, porque é um ritual tão importante para mim e me faz refletir tanto sobre mim mesma, mas ao mesmo tempo, refletir sobre os dois últimos anos é tão triste e dolorido, que várias vezes eu formulava frases e até um parágrafo inteiro na minha cabeça, mas eu nunca tinha empenho de sentar e colocar as palavras no papel (ou na tela).
A verdade é que, ainda hoje, 10 de janeiro de 2022, eu ainda me sinto em 2020.
Eu me perco na cronologia das coisas que aconteceram no planeta e na minha vida nos últimos dois anos. Eu não me lembro o que foi em 2020 e o que foi em 2021, e tudo fica misturado e confuso dentro da minha cabeça.
A minha vida está ruim. Eu não vou usar eufemismos aqui. Eu conheço meus privilégios, e eu tenho coisas pelas quais ser grata sim (sobre as quais escreverei adiante), mas eu estou infeliz. E é por isso que é tão difícil escrever.
Eu sei que a pandemia não é algo presente só na minha vida, não é uma preocupação só minha (embora às vezes essa seja a sensação), mas é algo que afeta cada pessoa de uma forma diferente, e me afetou de uma maneira mais arrebatadora do que eu poderia lidar.
Mas esses dias eu estava fazendo uma retrospectiva mental do meu comportamento nesses dois anos, e como as coisas foram se tranquilizando aos poucos (com vários sustos no meio do caminho, como estamos vivendo agora inclusive).
Eu percebi que, lá em agosto de 2020, quando eu voltei a trabalhar depois de 5 meses saindo de casa apenas para dar uma volta na praça com o meu namorado, eu tinha o costume de chegar em casa, tirar minha roupa na lavanderia e ir direto para o banho. Eu também passava álcool na mão depois de literalmente cada lugar que eu encostava.
Com o tempo eu passei a deixar minhas roupas usadas numa caixa de papelão no chão do banheiro, porque ficar andando pelada pela casa era desagradável e, por muitas vezes, bem gelado. Até que eu comecei a me permitir não lavar o cabelo todos os dias, e a deixar minhas roupas usadas num cantinho separado da estante dentro do quarto, como eu sempre fiz (pelo simples fato de estarem usadas, e não contaminadas), e aos poucos fui entendendo que tudo bem se eu saí do portão do meu prédio e não passei álcool na mão imediatamente depois de abri-lo.
Eu me permiti voltar a ir de bicicleta para os lugares, e entender que eu não preciso limpá-la minuciosamente toda vez que chego em casa (o que facilitou bastante o meu transporte), e isso me permitiu ter um pouco mais de lazer também, afinal, o meu meio de transporte é também um dos meus hobbies favoritos (e foi uma coisa muito presente no meu ano, que me trouxe um pouco de alegria).
Eu me permiti comer fora de casa, em um lugar ao ar livre e praticamente vazio, no dia do meu aniversário, uma semana antes da segunda dose da vacina. E depois da segunda dose, eu me permiti fazer algo para o qual eu estava contando os dias desde março de 2020, e que hoje é o ponto alto dos meus dias: ir para a academia.
Resumindo, hoje em dia eu consigo ir tranquilamente para o trabalho, em consultas médicas, ao shopping, e até mesmo ir comer de vez em quando em lugares abertos (embora eu esteja repensando este último ponto dadas as notícias recentes).
Aos poucos as coisas estão voltando ao ""normal"", e eu estou aprendendo a viver a vida dentro das minhas limitações.
Enfim, tudo isso é pra dizer que eu evoluí. Eu aprendi - sozinha, porque foi do jeito que deu -, a lidar com os meus medos, a me munir de informações para saber fazer as coisas corretamente e escolher os riscos que eu estou disposta a correr (que, no meu caso, são pouquíssimos, mas tudo na vida é escolha).
Agora eu estou focada na minha carreira (que foi a única coisa que me manteve de pé no ano passado), e em dar um rumo para a minha vida, depois de me sentir estagnada por tanto tempo.
Então, para finalizar mais essa retrospectiva deprimente, vou fazer um compilado de coisas que aconteceram na minha vida em 2021, que mesmo tendo sido uma bosta, teve acontecimentos legais, afinal, 365 dias podem passar voando, mas é muita coisa.
Coisas boas que aconteceram na minha vida em 2021:
- Eu comecei a fazer estágio na Renault, depois de ter sido aprovada em uma das 130 vagas num processo seletivo com mais de 13.000 inscritos
- Fiz 2 tatuagens (e não tenho foto boa de nenhuma delas)
- Tomei a vacina
E é isso.
Eu poderia falar de outros aspectos da minha vida aqui, mas 1. Ninguém se importa, isso é praticamente um diário para a Ana do futuro; 2. A minha vida, infelizmente, só se resumiu a pensar sobre covid o tempo todo por vários meses, por isso o foco desse texto.
Eu espero que no final de 2022 eu possa estar sentada em outra cadeira, em outro apartamento, sozinha, escrevendo uma retrospectiva mais feliz e com mais conquistas para compartilhar.
Se eu cumprir as metas que tracei para este ano, com certeza terá uma Ana mais feliz escrevendo aqui em dezembro.
Feliz 2020 parte 3. Espero que essa seja a última temporada.
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